De cantora evangélica a traficante procurada pela polícia. Essa foi a trajetória de Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, de 21 anos. Chamada pelo apelido de Hello Kitty, ela foi morta nesta sexta-feira durante uma ação do 7º BPM (Alcântara) e da 72ª DP (Mutuá) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A jovem era conhecida por debochar das forças de segurança em postagens nas redes sociais e posar com armas.
Numa foto que circulou em grupos de WhatsApp, Hello Kitty aparece com os olhos fechados e segurando um microfone enquanto canta num culto. Numa outra imagem, a jovem está bem diferente: segurando uma arma, que parece ser um fuzil. Um comentário nas redes sociais resume a transformação: “Essa é a Hello Kitty na igreja, fazendo a obra do Senhor. Infelizmente, ela saiu da igreja e agora está no mundo fazendo a obra do mal”.
'Perigosa e audaz'
Na ficha policial da jovem, consta uma prisão por tráfico e dois mandados de prisão preventiva por roubo. Investigações em pelo menos três delegacias apuravam a participação de Hello Kitty em tráfico de drogas, roubos e homicídios.
Policiais classificavam Hello Kitty como uma criminosa "perigosa e audaz". Por pistas que a levassem à prisão o Disque-Denúncia (21 2253-1177) oferecia uma recompensa de R$ 1 mil. A jovem era apontada pela polícia como braço direito de seu pai, Alessandro Luiz Vieira Moura, o Vinte Anos, também morto na operação. Os dois, segundo as investigações, comandavam o tráfico no Salgueiro, uma das comunidades mais violentas de São Gonçalo.
Hello Kitty nasceu em 25 de dezembro de 1999 e foi criada no Morro da Ilha da Conceição, em Niterói, também na Região Metropolitana, onde teria começado a atuar no tráfico de drogas. Em 2018, ela se tornou alvo da polícia por envolvimento em assaltos na região. Na época, a jovem circulava na garupa de uma moto preta, pilotada por seu namorado e cúmplice. Foi depois da morte dele, ocorrida em Minas Gerais, em 2018, que Hello Kitty deixou a Ilha da Conceição e foi para a Favela do Sabão, também em Niterói.
Na comunidade, a jovem atuou como segurança armada do tráfico. Depois, foi para São Gonçalo e ingressou no Bonde dos Vinte Anos. A quadrilha articulava invasões a comunidades controladas por facções rivais. Figura constante em bailes funk, Hello Kitty foi homenageada no funk “Tropa da Nova Grécia”. A letra faz apologia ao tráfico e revelou planos da facção que a criminosa integrava de tomar territórios de outros bandidos, em São Gonçalo.
Apesar da exposição nas redes sociais, onde dizia ser “Foragida e procurada da Justiça” (sic), Hello Kitty se preocupava em ser reconhecida por policiais. Por esse motivo, transformou a tatuagem que tinha em uma das coxas: o desenho de um dragão deu lugar ao de uma gueixa. Ela também usava calça comprida quando saía de seu reduto e mudava constantemente o cabelo.
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