Apoio a PT pode ter resistência de fieis

Depois da surpresa com a desistência de Anthony Garotinho, o pastor David Cabral, escolhido para compor a chapa do PR que vai disputar o Governo do Estado, no cargo de vice-governador, tem outro revés para administrar: uma possível resistência de algumas alas da Igreja Assembleia de Deus, seu berço político e religioso. As restrições à candidatura do líder religioso se resumem a uma questão - o apoio à petista Dilma Roussef.

Dentro da igreja, a maior do ramo pentecostal no país, existem alas que fazem forte oposição ao governo federal e sobretudo aos princípios defendidos pelos PT, principalmente com relação a temas delicados como aborto e união homossexual. Ciente das resistências que deverá enfrentar, David Cabral afirmou que há um compromisso da candidatura petista de rever alguns projetos. Ele admitiu, ainda, que num passado recente também fez forte oposição à candidata.


- Não é uma questão pessoal, contra este ou aquele candidato. Mas há uma clara divergência na questão dos princípios que estão na base do mundo cristão. Sei que há resistências na igreja, e eu mesmo ajudei a construir essa resistência, quando viajei para muitos lugares alertando sobre os riscos de algumas ideias do PT para a comunidade cristã - disse o pastor.

O que fez então David Cabral mudar de opinião e compor uma aliança com Dilma Roussef nessas eleições? De acordo com ele, a confiança no ‘poder do diálogo' e o reconhecimento do que o governo tem feito na área social."Não somos extremistas e acredito que, através do diálogo, vamos ajustar as condutas. Há a disposição da candidata e existe um compromisso de rever ponto a ponto as propostas para podermos trabalhar juntos. Além disso, existe grande afinidade na questão social, pois não há governo que trabalhou mais nessa área do que esse", explicou.

Um membro da Igreja Assembleia de Deus ouvido pelo DIÁRIO DO VALE, que preferiu não se identificar, confirmou que deve haver restrições à aliança com a candidata petista e não escondeu o descontentamento com a situação.

- Antes mesmo das eleições, a igreja já vinha estudando alguns projetos que vão de encontro à filosofia cristã. Então, há uma certa incoerência em apoiar a candidatura do PT e vai haver resistência sim - disse ele, que apontou o Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH) como o principal ponto de divergência entre cristãos e petistas.

"Existem algumas questões neste programa que batem totalmente de frente com os valores ligados à Igreja, como o apoio ao homossexualismo, ao aborto e outras questões ligadas à área da família", listou.
Outros políticos
Além de David Cabral, outros políticos fluminenses, também evangélicos, devem se engajar na campanha de Dilma. Dentro do próprio PR, o deputado federal Manoel Ferreira, bispo da Assembleia de Deus, vai ser o coordenador nacional do setor evangélico da campanha petista. Outro político evangélico, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o senador Marcelo Crivella (PRB), também é um dos principais apoiadores da campanha de Dilma no Estado do Rio. Muito querido pelo presidente Lula, Crivella foi só elogios à ex-ministra da Casa Civil em recente visita a Volta Redonda. "Com ela, o presidente Lula atingiu essa enorme popularidade. É uma mulher muito competente e vou estar a seu lado", declarou.

O próprio Garotinho, quando anunciou a desistência ao Governo do Estado, reforçou que fará campanha para Dilma, levando junto todo o PR fluminense. "Como ficamos, se a igreja orienta uma coisa e depois, perto das eleições, nos indica candidatos que não batem com os ensinamentos? Acho que são coisas que não deveriam se misturar, porque cria essas situações constrangedoras", desabafou outra fiel. O pedido dela encontra eco em outras vozes dentro e fora da igreja. Só que até aqui pelo menos, política e fé nunca andaram tão de mãos dadas como nessas eleições.
Garotinho surpreende até aliados
Não foi só a imprensa e os adversários que se surpreenderam com o anúncio da desistência de Garotinho ao Governo do Estado. Aliados, que ainda comemoravam a decisão do TSE que liberou a candidatura do ex-governador, também foram pegos de surpresa.- Fui à convenção mas não pude ficar até o fim. Estava tudo certo, tinha a certeza de que ele seria candidato. Só quando cheguei a Volta redonda, já de noite, foi que descobri que havia desistido. Acho que Garotinho surpreendeu até a ele mesmo com essa decisão - disse o presidente do PR em Volta Redonda, Antônio Cardoso, que deve disputar uma vaga como deputado estadual pelo partido.
Ele admitiu que os militantes ficaram ‘combalidos' com a notícia e ainda estão se acostumando com o novo cenário.

"Mas sigo otimista, apesar de estarmos um pouco desarticulados neste momento. Afinal, trabalhamos um ano com um líder e agora vamos ter que começar do zero para construir o nome de outra liderança com a população", comentou.

Com a decisão de Garotinho de concorrer a deputado federal, o partido agora reviu suas previsões para o pleito. Se antes, contava que conseguiria eleger oito deputados, agora as previsões mais otimistas apontam para 12 o número de eleitos.

- Mudou o cenário e o desdobramento espero que seja o melhor possível para o partido. O Zoinho que já tinha grande chance, hoje eu diria que certamente será eleito - avaliou o presidente.Citado por Cardoso, Jorge de Oliveira, o Zoinho, também não escondeu seu otimismo com a disputa. Acredita que suas chances dobraram. "A minha chance já era grande, agora dobrou, é bem maior", comentou.Também presente à convenção do partido, Zoinho foi pego de surpresa com o anúncio. Mas contemporizou a decisão de Garotinho e justificou a desistência.

- Acho que ele deu um passo atrás para dar dois na frente nas próximas eleições. Agora, ele deve ter refletido o desgaste por conta da questão judicial, o pouco tempo na TV, os recursos financeiros e tomou uma decisão que vai fortalecer o partido. Isso reforça mais uma vez que na política tudo é possível - disse.Até mesmo o candidato a vice da chapa, David Cabral, revelou que não sabia das intenções de Garotinho. "Meu nome nem era cogitado, acordei coordenador geral da campanha no Sul Fluminense e dormi candidato a vice-governador do estado. Pegou a todos nós de surpresa", resumiu.

Fonte:Diário do Vale

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