O pastor, que ganhou fama por ajudar a tirar homens do tráfico e a salvar pessoas prestes a serem executadas ou punidas por traficantes, saiu do presídio exausto e emocionado. "Não entendi por que me proibiram de entrar nas prisões. Durante dez anos percorri as carceragens e ajudei a acabar com várias rebeliões. Só fiz o bem", disse depois de três horas de pregação, ao lado de Márcio da Silva Rosa, subsecretário de Tratamento Penitenciário.
Um dos momentos mais inusitados da celebração foi quando o pastor desceu do palco e começou a caminhar entre os presos. À medida que ele colocava a mão na cabeça dos detentos gritando para que o demônio saísse daquele corpo, os homens caíam como pedras de dominó. Alguns choravam. A catarse coletiva, sob o sol nada ameno do inverno carioca, deixou o subsecretário feliz.
"Eventos como esse garantem mais um mês de tranqüilidade no presídio", avaliou. Dos 1.320 presos, apenas cerca de 300 não estavam na quadra diante do palco para ouvir o pastor. Apesar de não ter ali nenhum ex-chefe de tráfico, só são levados para o Muniz Sodré os presos que declaram pertencer ao Comando Vermelho.
José Júnior, coordenador do AfroReggae, Ong criada na favela de Vigário Geral há 15 anos, negociou a entrada do pastor no Complexo de Bangu com o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e o vice-governador Luiz Fernando Pezão. A autorização chegou pelas mãos do secretário de Administração Penitenciaria, Cesar Rubem Monteiro de Carvalho.
"Apesar de o pastor viver um processo contínuo de investigação, ninguém nunca provou nada contra ele", defendeu Júnior.
Os presos pareciam encantados. Jonatan Belino, da favela do Jacarezinho, condenado a dez anos por assalto a mão armada, defendia o pastor. "A maioria aqui assiste de manhã na TV ao programa do pastor todo dia. A fé que ele passa ajuda a gente a agüentar isso aqui", disse, de Bíblia na mão. De fato, a maioria sabia cantar todas as músicas apresentadas pelos cantores de gospel que faziam parte da comitiva evangélica.
O subsecretário Silva Rosa garantiu que representantes de outras religiões também serão bem-vindos aos presídios cariocas. O pastor Marcos já se adiantou e marcou visitas nas outras unidades do complexo, inclusive Bangu 8, onde está preso o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. "Não faço distinção nem de facção criminosa nem de diploma. Analfabeto ou doutor para mim é a mesma coisa. Quero dar a purificação e mudar a pessoa, tirar do crime", garantiu. Cacciola que se prepare.
Márcia Vieira - Agência Estado
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